Originária do Mediterrâneo a alcachofra chegou ao Brasil há cerca de cem anos e foi no sudeste paulista que a planta encontrou condições ideais de clima e solo para florescer. Nas cidades da região, o pico da safra começa na primavera e se estende até outubro. No passado, a cidade de São Roque, a 60 quilômetros da capital paulista, mantinha a liderança nacional na produção de alcachofras, porém, há alguns anos, perdeu o título para os municípios vizinhos de Piedade e Ibiúna. Apesar da pequena produção atual, a fama da cidade continua a servir de atrativo para um dos eventos mais tradicionais do interior paulista, a Expo São Roque, que reúne expositores de vinhos, flores e, claro, de alcachofra. Atualmente, a cidade de Piedade, na região de Sorocaba, é responsável por 90% de toda a alcachofra produzida no Brasil. A cidade conta com 30 produtores que cultivam uma área de pouco mais de 170 hectares, segundo dados da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.
ALCACHOFRA E COLESTEROL
Estudo publicado, em 2008, no Phytomedicine, realizado com 73 voluntários, detentores de boa saúde mas com colesterol levemente elevado, demonstrou que 1280 mg de extrato de alcachofra, por 12 semanas, reduziu em 4% o nível de colesterol total, enquanto que no grupo controle houve um aumento de 1,9%. Os pesquisadores concluem que, apesar de modesta, a redução dos níveis de colesterol na população estudada é estatisticamente significativa. Comparado a um ensaio prévio, os pesquisadores sugerem que o estado de saúde dos voluntários pode ter contribuído com os resultados obtidos.
ALCACHOFRA E ATIVIDADE FÍSICA
Atividades físicas extenuantes diminuem o potencial antioxidante intracelular. Um sistema de defesa antioxidante ótimo é desejável em pessoas que praticam exercícios de alta intensidade. Sabe-se que o excesso de atividade física aumenta a produção de radicais livres e o estresse oxidativo. Estudo polonês publicado no International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, em 2008, realizado com 22 remadores, concluiu que a suplementação com extrato de alcachofra aumenta as defesas antioxidantes significativamente. Os participantes foram divididos em 2 grupos, 1 recebeu placebo (substância inócua) e o outro recebeu uma cápsula de gelatina contendo 400 mg de extrato de folha de alcachofra, três vezes ao dia, durante 5 semanas. No início e no final do estudo, os participantes realizaram um teste de 2.000m em remo ergométrico. Antes de cada teste, 1 min após e 24 horas depois, amostras de sangue foram coletadas. Foi avaliada a atividade das enzimas antioxidantes superóxido dismutase, glutationa peroxidase, glutationa redutase, o nível de glutationa reduzida, a concentração de TBARS (que mede o dano oxidativo causado pelos radicais livres nas membranas celulares), a capacidade antioxidante total do plasma (TAC), os níveis de lactato e o perfil lipídico. O estudo concluiu que no grupo suplementado, a TAC foi significativamente maior e os níveis de colesterol total significativamente mais baixos mas não limita o dano causado aos eritrócitos (hemácias ou células vermelhas) de remadores competitivos submetidos a treinamento intenso.
ALCACHOFRA E SAÚDE DIGESTIVA
Disfunções gastrintestinais funcionais tais como a dispepsia (ou má digestão) são caracterizados por um largo espectro de sintomas referidos na parte superior do abdómen. Acredita-se que a função intestinal desordenada (incluindo distúrbios de motilidade, deficiências enzimáticas e nutricionais, aumento de permeabilidade e disbiose intestinal, dentre outras) desempenham papel fundamental para a manifestação desses transtornos. Dados disponíveis sugerem que fatores ambientais, estressores psicológicos e predisposição genética são gatilhos que podem contribuir para o aparecimento dos sintomas. Estudo pós-venda realizado no Reino Unido, pela University of Reading e publicado no Phytomedicine, em 2002, investigou a eficácia de uma dose baixa de extrato de folhas de alcachofra (ALE) na melhoria de sintomas dispépticos e na qualidade de vida. O estudo foi um estudo aberto. Pacientes saudáveis com auto-relato de dispepsia foram recrutados através da mídia. Questionários que mensuram os níveis de dispesia e ansiedadede foram aplicados no início e após 2 meses de tratamento, com 320 ou 640 mg de ALE, aleatoriamente distribuídos entre os participantes. Dos 516 voluntários participantes, 454 completaram o estudo. Em ambos os grupos de dosagem, em comparação com os valores iniciais, houve uma redução significativa de todos os sintomas dispépticos, com uma redução média de 40% na pontuação de dispepsia global. No entanto, não foram observadas diferenças nas medidas primárias entre os dois grupos, apesar do alívio do estado de ansiedade ter sido maior com a dose de ALE mais elevada. A qualidade de vida melhorou significativamente em ambos os grupos. Os pesquisadores concluem que o extrato de folhas de alcachofra melhora os sintomas gastro-intestinais e a qualidade de vida em indivíduos saudáveis que sofrem de dispepsia. Estudo posterior, também realizado na University of Reading e publicado no The Journal of Alternative and Complementary Medicine, em 2004, identificou, em análise prévia, 208 indivíduos portadores de Síndrome do Intestino Irritável (IBS). A incidência de IBS, o auto relato do padrão intestinal e o Nepean Dyspepsia Index, foram comparados antes e depois de um período de intervenção de 2 meses com ALE. Os resultados do estudo mostraram que houve queda significativa, de 26,4%, na incidência de IBS após o tratamento com ALE; mudança significativa no auto-relato de padrão intestinal, longe da alternância de constipação / diarréia para funcionamento normal. O score total de sintomas do Índice de Dispepsia Nepean diminuíram significativamente, em 41%, após o tratamento. Houve melhora significativa, de 20%, no score de qualidade de vida. Os pesquisadores concluíram que o ALE melhora não só os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável, mas também a saúde relacionada com a Qualidade de Vida em indivíduos que sofrem concomitantemente de dispesia e IBS. O Nepean Dyspepsia Index (Índice de Dispepsia Nepean) é um questionário que foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadorres internacionais, em Sidnei, Austrália, para ser aplicado em pessoas portadoras de dispesia funcional e, desta forma, funciona como uma ferramenta para mensurar sintomas e aspectos de qualidade de vida.
ALCACHOFRA E SAÚDE HEPÁTICA
Estudo realizado em Istanbul, Turquia e publicado no Experimental and Toxicologic Pathology, em 2008, investigou o efeito do pré-tratamento com extrato de alcachofra em ratos com estresse oxidativo e hepatotoxicidade induzida por tetracloreto de carbono (CCl4). O tetracloreto é uma substância sintética e tóxica. Os ratos receberam extrato de folhas de alcachofra (1.5g/kg/dia), durante 2 semanas e em seguida, foi aplicado o CCl4 (1ml/Kg). A administração de CC14 resultou em necrose hepática. Em ratos pré-tratados com extrato de alcachofra, houve melhora nas células do fígado. O estudo concluiu que a administração in vivo de extrato de alcachofra pode ser útil para a prevenção da toxicidade hepática induzida pelo estresse oxidativo.
Outro estudo realizado na Alemanha e publicado no Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, em 2009, investigou a influência do extrato das folhas da alcachofra (ALE) na fisiologia celular e na expressão gênica de enzimas de fase I/II (de destoxificação) de células hepáticas humanas HepG2 e o potencial efeito protetor contra a toxicidade celular induzida por etanol. As células HepG2 são uma linhagem de células de fígado humano que podem ser
mantidas em laboratório e são um bom modelo para estudar esse órgão,
pois mantêm várias características das células de fígado originais. O estudo verificou que o ALE tem um efeito direto nas células do fígado, com aumento da atividade mitocondrial, levando a um estado de energia mais elevado, induzindo maior síntese proteica. Os efeitos positivos do ALE contra o etanol ocorrem porém, os pesquisadores concluíram que o mesmo não é devido a um efeito detoxificante, mas sim por conta da estimulação da capacidade metabólica das células.
Estudo de 2002, realizado pela Universidade de Sevilha, Espanha, e pulicado no Phytomedicine, avaliou os efeitos do ALE sobre o fluxo biliar e a formação de compostos biliares, em ratos Wistar, após a administração aguda e repetida (duas vezes ao dia, durante 7 dias consecutivos), por via oral. Durante todo o experimento, observou-se um aumento dos ácidos biliares e a atividade colerética (aumento do fluxo de bile) foi mais significativa após o tratamento com a dose única e mais elevada (400mg/kg) de ALE. O uso tradicional de ALE em gastroenterologia é principalmente com base nas suas fortes ações antidispépticas mediadas pela atividade colerética, ou seja pelo aumento do fluxo biliar.
ALCACHOFRA E AÇÃO ANTIMICROBIANA
Estudo realizado na China e publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, em 2004, isolou oito compostos do extrato da folha de alcachofra (ALE) e avaliou a atividade antimicrobiana. Os oito compostos apresentaram atividade antiomicrobina, porém, o ácido clorogênico, a cinarina, a luteolina-7-rutinoside e a cinaroside, fitoquímicos presentes no ALE, exibiram uma atividade relativamente mais elevada do que outros compostos e foram mais eficazes contra fungos do que bactérias. As concentrações inibitórias mínimas destes compostos foram de 50 e 200 microgramas/ml.
Texto elaborado por Drª Marília Fernandes, Nutricionista.
[11/09/2012]
[11/09/2012]
Referências:
1- Jornal Entreposto. Disponível em:
http://www.jornalentreposto.com.br/
2- 20ª Expo São Roque. Disponível em:
http://www.exposaoroque.com.br/
3- BUNDY, R A. et al. Artichoke leaf extract (Cynara scolymus) reduces plasma cholesterol in otherwise healthy hypercholesterolemic adults: a randomized, double blind placebo controlled trial. Phytomedicine. Apr.,2008. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18424099
4- SKARPANSKA S. A. et al. The influence of supplementation with artichoke (Cynara scolymus L.) extract on selected redox parameters in rowers. Int J Sport Nutr Exerc Metab 18(3):313-27, Jun, 2008. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18562776
5- RÖSCH, W. et al. Phytotherapy for functional dyspepsia: a review of the clinical evidence for the herbal preparation STW 5. Phytomedicine, 13 Suppl 5:114-21, 2006.
Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16978851
6- MARAKIS, G. et al. Artichoke leaf extract reduces mild dyspepsia in an open study. Phytomedicine, Dec;9(8):694-9. 2002. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12587688
7- BUNDY, R. et al. Artichoke Leaf Extract Reduces Symptoms of Irritable Bowel Syndrome and Improves Quality of Life in Otherwise Healthy Volunteers Suffering from Concomitant Dyspepsia: A Subset Analysis. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 10(4): 667-669, August 2004. Disponível em:
http://online.liebertpub.com/doi/abs/10.1089/acm.2004.10.667
8- TALLEY, N. J.; VERLINDEN, M.; JONES, M. Quality of life in functional dyspepsia: responsiveness of the Nepean Dyspepsia Index and development of a new 10-item short form. Aliment Pharmacol Ther, 15: 207±216, 2001. Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1046/j.1365-2036.2001.00900.x/pdf
9- MEHMETÇIK, G. et al. Effect of pretreatment with artichoke extract on carbon tetrachloride-induced liver injury and oxidative stress. Exp. and Toxicologic Pathology, Volume 60, Issue 6, 18, Pages 475–480, Sep., 2008. Disponível em:
http://ukpmc.ac.uk/abstract/MED/18583118
10- LÖHR, G; DETERS, A; HENSEL, A. In vitro investigations of Cynara scolymus L. extract on cell physiology of HepG2 liver cells. Braz. J. Pharm. Sci., vol.45, no.2, São Paulo, Apr./June 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-82502009000200003
11- SAÉNZ, R. T.; GARCÍA, G. D.; VAZQUEZ, R. Choleretic activity and biliary elimination of lipids and bile acids induced by an artichoke leaf extract in rats.Phytomedicine, 9(8):687-93, Dec, 2002. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12587687
12- ZHU, X.; ZHANG, H.; LO, R. Phenolic Compounds from the Leaf Extract of Artichoke (Cynara scolymus L.) and Their Antimicrobial Activities. J. Agric. Food Chem., 52 (24), 2004. Disponível em:
http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/jf0490192
Nenhum comentário:
Postar um comentário